Escritores médicos têm chegado à conclusão de que o Código Moisaico, que contém o documento sanitário básico do Velho Testamento, apresenta sãos princípios científicos de saúde. Percival Wood, no seu livro intitulado Moisés, Fundador da Medicina Preventiva, declara: «Os seus (de Moisés) princípios fundamentais eram tão sãos, as suas leis tão claras, a sua atenção aos pormenores tão perfeita e o seu espírito tão intrépido, como se vivesse nos nossos dias.»
No começo do seu código, Moisés registou esta promessa: «E (Deus) lhes disse: Se escutarem com atenção aquilo que eu, o Senhor, vosso Deus, vos ordeno; se fizerem o que me agrada, obedecendo aos meus mandamentos e cumprindo as minhas leis, não vos enviarei nenhuma das pragas com que castiguei os egípcios, porque eu sou o Senhor, aquele que cura os vossos males.» (Êxodo 15:26).
ASPECTOS BÁSICOS DO CÓDIGO SANITÁRIO MOISAICO
O código sanitário moisaico pode ser dividido em 12 partes.
Examinemos cada uma delas.
SANIDADE AMBIENTAL - Exemplos de sanidade ambiental incluem instrução explícita acerca da deposição de excretos humanos (Deuteronómio 23:12, 13) e inspecção habitacional (Levítico 14:34-57). A inspecção das casas dos Israelitas excedia tudo o que fazemos hoje. O cobrir os excretos humanos prevenia em grande medida várias doenças egípcias, tais como a pólio, a tuberculose, a esquistossomíase e outras doenças contagiosas.
PREVENÇÃO DE DOENÇAS - Um exemplo da abordagem adoptada para prevenir doenças aparece na proibição da tatuagem, que se originou no Egipto para honrar os mortos. «Não façam cortes nem tatuagens na vossa pele em lembrança dum defunto. Eu sou o Senhor!» (Levítico 19:28). Os Egípcios antigos sofriam de hepatite e de tétano, que podiam ter a sua origem na prática da tatuagem.
CONTÁGIO - O isolamento de vítimas de várias doenças contagiosas, de distúrbios da pele e de lepra, no código sanitário moisaico (Levítico 13:1-46) proporcionou uma base para o desenvolvimento das quarentenas durante a Idade Média. Não conheço nenhum outro documento antigo sanitário ou médico que faça a mínima referência ao isolamento de portadores de doenças contagiosas.
CULTIVO DA TERRA - Outra medida com implicações sanitárias tinha que ver com o cultivo da terra. Segundo o código moisaico, a terra devia ser deixada a descansar cada sétimo ano (ver Levítico 25). A razão para este preceito só muito vagamente podia ser compreendida pelos antigos israelitas, dado que nenhum outro povo contemporâneo tinha regulamentos semelhantes. Hoje, com o advento da moderna tecnologia científica, compreendemos a necessidade de que a terra repouse a fim de que o solo possa restaurar-se.
DOENÇA - Moisés referiu-se a algumas doenças endémicas sofridas pelos Hebreus no deserto, fornecendo tanto uma descrição das doenças como os respectivos diagnósticos (Levítico 13:1-46). Historiadores médicos identificaram sete diferentes condições mórbidas sob a designação geral de lepra.
COMPORTAMENTO SOCIAL E MORALIDADE - A lei moral declara: «Não cometas adultério.» (Êxodo 20:14).
A violação deste preceito era estritamente punida. «Se um homem comete adultério com a mulher de outro, tanto ele como ela devem ser condenados à morte.» (Levítico 20:10).
Embora estas punições nos pareçam hoje severas, eram necessárias para proteger os filhos de Israel. Os egípcios, que livremente praticavam a prostituição, a concubinagem e a poligamia, sofriam comummente de cegueira na sua descendência devido a infecção gonorreica.
Que Deus desejava proteger o Seu povo das mesmas consequências pode ver-se nesta descrição clássica da gonorreia e do seu resultado: «O Senhor há-de fazer-te sofrer tumores, como os do Egipto, úlceras, sarna e tinha, e não conseguirás curar-te. Há-de mandar-te loucura, cegueira e demência; andarás às apalpadelas e às escuras em pleno dia, como um cego, sem conseguires encontrar o caminho e serás oprimido e explorado durante toda a vida, sem que ninguém te vá libertar.» (Deuteronómio 28:27-29).
HIGIENE PESSOAL - As palavras kabas («lavar») e rachats («banhar») são usadas 63 vezes no código sanitário moisaico, indicando a importância que a higiene desempenhava na profilaxia de doenças entre o povo hebraico. Os Hebreus eram instruídos a lavar o seu vestuário e os seus corpos depois de terminado o período de quarentena (Levítico 14:8, 9). Moisés especificou até a água corrente de preferência a um banho em água estagnada (Levítico 15:13).
EXERCÍCIO - Para exercício a Bíblia recomenda o trabalho produtivo. «Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra» (Êxodo 20:9) está em contraste com a ênfase dada pelos Gregos aos desportos competitivos. Hoje, mais do que nunca, reconhecemos os benefícios da actividade física.
REPOUSO - «Mas o sétimo dia é o dia de descanso, consagrado ao Senhor, teu Deus. Nesse dia, não farás trabalho nenhum, nem tu nem os teus filhos nem os teus servos nem os teus animais nem o estrangeiro que viver na tua terra. Porque, durante os seis dias, o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles, mas descansou no sétimo dia. Por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e declarou que aquele dia era sagrado.» (Êxodo 20:10, 11). Assim a ideia de um dia de repouso veio da Bíblia até nós.
Alguém disse que «o Sábado do sétimo dia é a maior contribuição do Judaísmo para o bem-estar humano.» Henry A. Sigerist, que ensinou História da Medicina nas Universidades de Yale, Harvard e Johns Hopkins, observou:
«A instituição de um dia semanal de repouso foi extraordinariamente importante como medida de higiene física e mental, pois estabelece um ritmo elementar definido para a vida do homem, providenciando um dia de repouso e de recriação depois de cada seis dias de trabalho. E a regularidade, o ritmo, é um facto essencial de saúde.» Inglis acrescenta: «O mandamento de que a todos deve ser dado ter um dia de repouso por semana pode também ser considerado uma valiosa inovação terapêutica.»
Se a saúde é a combinação perfeita dos aspectos físico, mental e espiritual da natureza do homem, então o Sábado torna-se a perfeita medida sanitária, pois impede o esgotamento físico, a depressão mental e a atrofia espiritual.
NARCÓTICOS - O código sanitário moisaico aconselhava contra o uso de bebidas alcoólicas (Levítico 10: 8, 9; Números 6:3) e de ervas venenosas (Deuteronómio 29:18). Deve fazer-se uma distinção entre tirosh e yayin. Ao passo que tirosh indica o puro sumo de uva (mas é traduzido por «vinho» nas versões correntes), yayin indica bebida intoxicante (e também é traduzido por «vinho»).
A palavra fel (rosh) é usada em vez de papoila, da qual os antigos extraíam o ópio. Pensa-se que a palavra traduzida por absinto (laanah) corresponde a cicuta.
VESTUÁRIO - A descoberta de fungos e de alforra no vestuário requeria que este fosse lavado. Se isso o não purificasse, devia ser destruído pelo fogo (Levítico 13:47-59).
DIETA - Dado o facto de que a dieta do código sanitário moisaico era de carácter preventivo, a maior parte da instrução aparece sob a forma de proibições. Entre estas encontram-se a gordura e o sangue (Levítico 3:17; 7:22-24, 26), a carne despedaçada no campo (Êxodo 22:31), animais que morreram sem ninguém os matar (Deuteronómio 14:21), carne impropriamente cozinhada (Êxodo 23:19).
Os animais do campo devem ter as unhas fendidas e ruminar o alimento. Esta designação elimina todos os animais que se alimentam de detritos, os carnívoros, e os roedores pestíferos. Só podiam ser comidos animais aquáticos que tivessem escamas e barbatanas, o que em geral eliminava os que viviam em águas inquinadas e certas variedades venenosas. Embora nenhuma regra abarcasse todas as aves, são apresentadas listas de espécies proibidas.
O código sanitário moisaico continua a maravilhar os historiadores da Medicina e os da Saúde Pública na medida em que tão compreensivo e tão completo se manifesta. É um código excelente com princípios ainda hoje válidos.
Ruben A. Hubbard
Revista Sinais dos Tempos
Publicadora SerVir, S.A.
O Dr. Ruben A. Hubbard é professor assistente na Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda, Califórnia, E.U.A.
Nota - Citações bíblicas extraídas da Bíblia Sagrada, A Boa Nova em Português Corrente, tradução interconfessional do hebraico, do aramaico e do grego em português corrente. Edição da Sociedade Bíblica de Portugal, 1993.
Os Tradutores:
António Augusto Tavares, António Pinto Ribeiro Júnior, João Soares Carvalho, Joaquim Carreira das Neves, José Augusto Ramos e Teófilo Ferreira.