Acesse o Link

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Qual a diferença entre pastor, bispo e presbítero?


(No Novo Testamento, as palavras pastor, bispo e presbítero descrevem os mesmos homens (Atos 20:17,28; 1 Pedro 5:1-3; Tito 1:5-7). Eles servem em congregações locais, cuidando do rebanho de Deus.
As várias palavras identificam os mesmos servos, mas cada palavra tem seu próprio significado. Essas variações de sentido ajudam para mostrar aspectos diferentes do trabalho dos homens que cuidam de uma congregação.
Pastor é uma palavra comum na Bíblia. Freqüentemente se refere aos pastores de ovelhas, pessoas responsáveis pelos rebanhos. Tais homens protegiam, guiavam e alimentavam as ovelhas. O Espírito Santo usou esta palavra várias vezes no Antigo Testamento num sentido figurativo, descrevendo guias espirituais. Deus é chamado de Pastor desde a época dos patriarcas (veja Gênesis 49:24-25). Salmo 23 descreve o Senhor como pastor do seu servo fiel. O autor, um pastor de ovelhas na sua juventude, descreve o carinho e a proteção de Deus para com seus seguidores. Moisés descreveu o homem escolhido para guiar o povo como pastor (Números 27:17). Infelizmente, nem todos os pastores são bons. Deus condenou fortemente os pastores egoístas que devoravam o rebanho de Israel (Ezequiel 34:1-10). No Novo Testamento, homens qualificados devem pastorear o rebanho, a congregação do Senhor (1 Timóteo 3:1-7; Atos 20:28-35; 1 Pedro 5:1-3).
Bispo vem da palavra grega episkopos, que quer dizer supervisor ou superintendente. Em 1 Pedro 2:25, se refere ao Senhor. Várias outras passagens usam essa palavra para descrever a responsabilidade de homens escolhidos para guiar os discípulos de Cristo no seu trabalho na igreja (veja Atos 20:28; Filipenses 1:1; 1 Timóteo 3:2; Tito 1:7).
Presbítero (ancião em algumas versões da Bíblia) descreve alguém de idade mais avançada. A palavra é usada na Bíblia para identificar alguns dos líderes entre os judeus. No livro de Atos e nas epístolas, os homens que pastoreavam e supervisionavam as igrejas locais foram freqüentemente chamados de presbíteros (veja Atos 11:30; 14:23; 15:2,4,6,22,23; 16:4; 20:17; 21:18; 1 Timóteo 5:17,19; Tito 1:5; Tiago 5:14; 1 Pedro 5:1; 2 João 1; 3 João 1). São homens de idade suficiente que tenham filhos crentes. Necessariamente são alguns dos mais maduros dos cristãos na congregação. Usam seu conhecimento e experiência para servir como modelos e ensinar o povo de Deus.
Pastores, bispos e presbíteros não são três ofícios diferentes, e sim três palavras que descrevem aspectos diferentes dos mesmos homens. Igrejas que procuram manter distinções entre pastores, bispos e presbíteros não somente fogem do padrão bíblico como também perdem a riqueza das palavras que o Espírito Santo usou para descrever os guias do povo de Deus.

O que a bíblia diz sobre administração eclesiástica?

Até que ponto vai a supervisão dos pastores?
No Novo Testamento, homens com qualificações especiais reveladas pelo Senhor (veja 1 Timóteo 3:1-7; Tito 1:5-9) foram selecionados para supervisionar e cuidar dos seus irmãos. Estes homens foram chamados presbíteros ou bispos, e sua função era pastorear o rebanho de Deus (Atos 20:17,28; 1 Pedro 5:1-3). Pelo seu exemplo e ensinamento, eles eram encarregados da responsabilidade de guiar o rebanho no serviço do Senhor (Hebreus 13:7,17).
Tais homens eram selecionados nas igrejas locais (Atos 14:23; Filipenses 1:1). Observe que nunca lemos no Novo Testamento sobre um só homem pastoreando uma igreja; havia sempre mais de um (Atos 20:17; Filipenses 1:1). O propósito de Deus não era dar alguma posição de poder a algum homem, mas colocar bons homens na posição de olhar por seus irmãos.
Esses homens tinham que supervisionar o rebanho onde estavam (1 Pedro 5:2). Não há a mais leve sugestão de bispos nas igrejas primitivas tentando supervisionar ou comandar o trabalho de outras igrejas. Tais termos como igrejas matrizes, igrejas filiais, igrejas patroci-nadoras e igrejas de missões são invenções humanas sem qualquer base bíblica. Quando pastores de uma igreja procuram supervisionar seus irmãos de outras congregações, eles estão indo além das instruções do Senhor. Ninguém, especial-mente aqueles que guiam o povo de Deus, deve exceder o que Deus determinou (1 Coríntios 4:6; Colossenses 3:17).
Isto não significa que um bispo de uma igreja local não possa ensinar irmãos em outros lugares. Pedro serviu como presbítero no tempo em que ele escreveu sua primeira carta (1 Pedro 5:1). Presbíteros, como qualquer outro cristão, podem ensinar qual-quer um, em qualquer lugar, a qualquer tempo. Mas os bispos não têm direito de pastorear mais do que o rebanho local no qual servem.

Jesus teve irmãos?




    Indubitavelmente, este é um assunto já resolvido no meio protestante tradicional devido à abundância de textos nas Escrituras neotestamentária que o elucidam. Poderíamos até considerá-lo obsoleto se não fosse pelo mariocentrismo, doutrina da Igreja Católica Romana que teima em admitir que Maria permaneceu virgem após o parto (virginitas post partum), o que torna parte dessa teologia um ¬verdadeiro desvario e um grande óbice ao verdadeiro cristianismo ortodoxo.
Durante séculos, a mariologia tem sofrido evoluções cada vez mais ousadas, e o tempo é testemunha disso:

• Em 400 d.C, Maria foi proclamada “Mãe de Deus”;
• Em 1854, a “Imaculada Conceição de Maria” torna-se dogma;
• Em 1950, a “Assunção de Maria” vira artigo de fé.
Hoje, cogita-se em colocar Maria junto à Trindade divina, formando assim uma quaternidade. O catolicismo está criando cada vez mais uma Maria totalmente diferente daquela apresentada pelos evangelhos. Ao inventarem supostos pais para Maria, Santa Ana e São Joaquim, ¬baseados em livros apócrifos, os católicos ao mesmo tempo omitiram a verdadeira família de Maria e roubaram-lhe a nobre missão de mãe.
Origens dessa doutrina
Não se sabe ao certo onde e como se começou a acreditar que os irmãos de Jesus dos quais falam a Bíblia, e, diga-se de passagem, “de modo explícito”, eram apenas primos ou irmãos em sentido espiritual (versão Romana) ou meio-irmãos de um casamento anterior de José (versão Grega). Não obstante, parece que isso surgiu como uma deturpação de uma resposta aos judeus, por estes acusarem Maria de cometer adultério com um soldado romano chamado “Pantera” (Atos de Pilatos 11:3 e Talmud séc. II), onde Jesus seria um filho bastardo deste suposto soldado.
O fato é que esta doutrina veio ganhar força somente após o século IV com Jerônimo, mas era praticamente desconhecida pelos antigos escritores pré-niceno; como são de praxe as demais invencionices da Igreja Católica. Orígenes também foi um dos pais primitivos que colaborou para que esta distorção criasse corpo baseando-se para isso apenas em duas obras apócrifas: o “Proto-Evangelho de Tiago” e o “Evangelho de Pedro”; obras de meados do século II. Logo após, Epifânio também foi nas pisadas de Orígenes e acabou por abraçar tal idéia. É interessante notar que tanto Orígenes e Epifânio quanto Jerônimo, eram adeptos do ascetismo e da vida monástica a qual incluía a castidade; Orígenes segundo alguns historiadores, chegou a ponto de se castrar! Mais tarde porém, esta tese foi desenvolvida e aperfeiçoada cada vez mais. Empacotada de modo sofismático pelos teólogos católicos é agora dogma dos católicos romanos. O que muitos protestantes talvez não saibam é que até mesmo os primeiros reformadores como Lutero e Calvino criam na virgindade perpétua de Maria. Mas por outro lado, é bom frisarmos que muitos pais primitivos como Hegesipo, Tertuliano, Irineu e posteriormente Eusébio e Helvídio defendiam a idéia de que realmente os irmãos de Jesus eram irmãos carnais como fazem atualmente a esmagadora maioria dos protestantes e devido recentes pesquisas, até mesmo alguns teólogos católicos.
Analisando o evangelho de Mateus
O texto de Mateus 1.25 afirma o seguinte: “e não a conheceu enquanto (até que) ela não deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de Jesus”.
Para os protestantes, a referência bíblica em apreço parece ser, a princípio, uma fortaleza inexpugnável, e não é para menos, pois diz categoricamente que José não a conheceu “até” ou “enquanto” (heos, hou) ela não deu à luz. Ora, o que depreende e subentende-se é que, após o parto, Maria teve relações sexuais com seu marido como qualquer casal judeu normal de seu tempo! Parece ser esta a preocupação principal do evangelista ao transmitir sua mensagem. Mas, por outro lado, devemos concordar com nossos antagonistas romanos em que há casos em que Mateus usa a preposição “até” para dizer que não houve mudança após a ocorrência de determinado evento. Por exemplo, “Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo” (Mt 12.20). É claro que o texto não está dizendo que o manso Messias será um ditador cruel após o triunfo do juízo.
Outros textos bíblicos, além de Mateus, podem ser usados como exemplo: Salmo 110.1 e 1 Timóteo 4.13. Mas podemos ver Mateus usando a preposição “até” (que indica um limite de tempo, nos espaços, ou nas ações) quando o contexto diz claramente que há mudança. Vejamos: “E, havendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e ali fica até que eu te fale; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (Mt 2.13).
Assim, tomar este trecho de forma isolada não é de modo nenhum conclusivo para ambas as partes; não resolve o problema. Se quisermos obter uma idéia mais clara do assunto teremos de nos voltar para um contexto maior e achar algo fora desse trecho que complete esta lacuna e dirima a incógnita. Será que Mateus usou a preposição “até” para indicar mudança ou não? Resolveremos isso usando dois princípios de interpretação: o contexto imediato e o contexto mais lato.
É notório que os casamentos orientais da época de Jesus eram, sem sombra de dúvida, bem diferentes dos do nosso tempo. Mateus declara que Maria estava desposada (entenda-se noiva) com José. Diz ainda que ele não a “conheceu até” (Mt 1.18). Algumas vezes a palavra “conhecer” é usada na Bíblia de modo figurado, significando relação sexual (Gn 4.25), e, neste caso, o contexto apóia este sentido.
A voz dos outros evangelistas
Outro fator que corrobora com a interpretação acima é o fato de Lucas ter usado a expressão grega pro¬totokos, que significa “Primogênito”, em relação ao nascimento de Cristo: “e teve a seu filho primo¬gênito...” (Lc 2.7).
Se Lucas quisesse dizer que Jesus foi o único filho de Maria, teria usado, de modo inequívoco, a expressão monogenes (unigênito, em português) que significa “[filho] único gerado”, como acontece em João 3.16. Mas não, ele usou, de modo consciente, o termo certo: “primogênito”, indicando que Jesus foi apenas o “primeiro” filho de Maria, e não o “único”.
Se Jesus tivesse sido o único filho de Maria, os evangelistas mostrariam isso, de modo explícito, em seus escritos. Mas não é isso que constatamos no Novo Testamento.
O que diz o Novo ¬Testamento
Uma leitura superficial do Novo Testamento, em especial dos evangelhos, mostrará, sem sombra de dúvida, que Jesus Cristo teve irmãos e irmãs (Mt 12.46,47, 13.55-56; Mc 6.3). E ainda nos dão os nomes dos irmãos: Tiago, José, Simão e Judas. E essas pessoas aparecem sempre relacionadas com Maria, mãe de Jesus, o que nos dá a impressão de que os escritores e os evangelistas quiseram nos transmitir o quadro de uma família composta por mãe e filhos. Vejamos: “Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe. Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar contigo” (Mt 12.46-47).
Depois do milagre em Caná, Maria e os irmãos do Senhor aparecem juntos: “Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias” (Jo 2.12).
Em outra ocasião, Maria e seus irmãos mandam chamá-lo: “Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando da parte de fora, mandaram chamá-lo” (Mc 3.31). João acrescenta que nem os seus criam em Jesus: “Pois nem seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). E, por último, os irmãos de Jesus aparecem no cenáculo orando com Maria: “Todos estes perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1.14).
Resposta a um suposto argumento
Não conseguindo desmentir o consenso cristalino das Escrituras, os mestres romanistas acabam forjando sofismas cada vez mais mascarados de piedade que, aos poucos, vão alcançando a mente e o coração dos adeptos católicos. Todavia, quando confrontados com a Bíblia, tais disparates revelam ser apenas paliativos ardilosos que, por vezes, acabam sendo pulverizados diante dos fartos argumentos bíblicos. Na tentativa de esquivar-se dos argumentos protestantes, os líderes católicos desenterram, das ruínas medievais, teses falaciosas floreadas com terminologias teológicas modernas para causar impressão. Uma dessas teses tenta transferir os irmãos de Jesus para uma outra Maria e, para alcançar esse objetivo, faz verdadeiro malabarismo com os nomes bíblicos. ¬Con¬segue fazer uma combinação en¬genhosa com os textos de Marcos 6.3, 3.18, 15.14, 16.1 e João 19.25. Diz que Maria, mãe de Tiago (o menor) e de José é irmã de Maria (a mãe de Jesus) e mulher de Cleofas, a quem confundem com Alfeu. Resumindo: esses “irmãos” (Tiago e José) de Marcos 6.3, segundo essa teoria, na verdade seriam primos de Jesus. Uma explicação plausível e uma suposta base “bíblica” para a questão. Ledo engano!
Um argumento de fácil refutação
Contudo, não há nada no texto que insinua ser Alfeu cunhado de Maria! Naquela época, esses nomes eram comuns! Demais disso, a Bíblia não relata o nome da irmã de Maria, e é pouco provável que duas irmãs tivessem o mesmo nome. Suponhamos, por um momento, que isso fosse verdade! Não é estranho que esses personagens apareçam sempre junto a Maria, sua “tia”, e nunca junto à sua verdadeira mãe ?!
Outros ainda insistem no fato de que aqueles irmãos de Jesus na verdade seriam seus discípulos, simplesmente porque na igreja todos os discípulos de Cristo são chamados de “irmãos”.
Esse parece ser o argumento mais inócuo, pois a Bíblia faz nítida distinção entre ‘seus discípulos” e os “irmãos” do Senhor (Jo 2.12; At 1.13,14). Todavia, a ¬maior dificuldade enfrentada por esse argumento é que o texto diz que nem “seus irmãos criam nele” (Jo 7.3,5,10). Ora, como então poderiam ser seus discípulos?!
O significado de irmãos na Bíblia
Em Mateus 12.47, na Bíblia católica, versão dos “Monges Maredsous”, o tradutor teceu o seguinte comentário sobre os “irmãos” de Jesus no rodapé da página: “Irmãos: na língua hebraica esta palavra pode significar também ‘parentes próximos’ ou ‘primos’, como neste caso. Exemplo: Abraão, tio de Lot, chama-o com a designação de irmão (Gn 11.27; 13.8)”.
Outro estudioso católico afirma: “Assim sendo, é possível que por detrás dos ‘irmãos’ e ‘irmãs’ de Jesus estejam seus ‘primos’ ou ‘parentes’1.
Refutação bíblica: Não existe um só caso na Bíblia, e principalmente no Novo Testamento, em que a palavra grega adelphós (irmão) é traduzida por primo ou parente. Das 343 vezes em que o N.T usa o termo adelphós, ele apresenta dois sentidos para a palavra “irmão”: a de irmão legítimo (carnal) e o metafórico.
Sentido metafórico: Neste sentido, enquadram-se todos os textos sobre os seguidores de Jesus (Mc 3.35), os cristãos da igreja (1Co 1.1), os judeus (Rm 9.3) e os seres humanos em geral (Hb 2.11,17). É obvio que as referências nos evangelhos e nas epístolas aos “irmãos” (filhos de Maria) de Jesus não se enquadram nesta categoria.
Sentido literal: É justamente neste sentido que a palavra irmãos (no plural) é usada, em sua grande maioria, na Bíblia. Nenhum estudioso católico jamais traduziu esta palavra como primos ou irmãos espirituais. As Escrituras não deixam nenhuma dúvida quanto a esse assunto. Duvido que alguém leia os textos que seguem e consiga empregar o sentido de primo ou irmão espiritual onde aparece a palavra irmãos.
“E, passando mais adiante, viu outros dois (irmãos) Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou” (Mt 4.21).
“E todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mt 19.29).
A Bíblia deixa patente que quando a palavra “irmãos” aparece junto aos termos “pai” e “mãe” ela denota filiação legítima de sangue, e isto ninguém consegue eclipsar. Compare: “Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?” (Mt 13.55).
Nas quinze ocorrências em que é empregado o termo adelphós em relação a Jesus o sentido básico é de irmãos legítimos. Mas alguns podem objetar dizendo que a palavra hebraica ah (irmão) aparece várias vezes significando irmãos não de sangue, mas primos ou sobrinhos. É verdade que a língua hebraica tinha um vocabulário um pouco pobre e, por isso, não possuía uma palavra específica para primos ou parentes. Então utilizava a expressão “irmão” de modo lato (Gn 29.12, 24.48)
Esse artifício, no entanto, não é suficiente para que os católicos se esquivem da derrocada teológica! A palavra “irmão”, no hebraico, pode significar primo, mas, mesmo neste caso, temos de tomar cuidado. Geralmente, quando a palavra “irmão” é empregada no sentido de parente próximo o contexto esclarece a questão (1Cr 23.21-22). Além disso, o Novo Testamento foi escrito em grego, e não em hebraico. Será que no grego Coiné, língua na qual foi escrito o Novo Testa¬mento, existia esta distinção ¬praticamente ausente no hebraico? Vejamos.
Termos do Novo ¬Testamento para irmãos e primos
Não devemos nos esquecer de que quando o Novo Testamento faz referências aos irmãos de Jesus o contexto não traz nenhum tipo de esclarecimento adicional, como acontece no Antigo Testamento. Além disso, os escritores sabiam a diferença entre os termos irmão (adelphós), primo (anepsiós) e parentes (sungenes). Mesmo Paulo, que usava bastante metáfora, sabia usar com distinção essas palavras. Tanto é que escreveu sobre os “irmãos” de Jesus sem deixar nenhuma dúvida ao laço carnal entre o Senhor e seus irmãos. Vejamos: “Não temos nós direito de levar conosco esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1Co 9.5). “Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gl 1.19).
Como já falamos, e isso é interessante, o apóstolo Paulo sabia perfeitamente usar a palavra correta para primo (anepsiós) e parente (sungenes) em suas epístolas. Não havia motivo de confusão! “Saúda-vos Aris¬tarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o primo de Barnabé...” (Cl 4.10). “Saudai a Herodião, meu parente” (Rm 16.11).
Caso a tese católica estivesse correta, o apóstolo poderia muito bem ter usado a expressão hoi anepsiós Kyriou (primos do Senhor), e não adelphói tou Kyriou (irmãos do Senhor), até porque os irmãos de Jesus estavam vivos quando o apóstolo escreveu as duas epístolas.
Argumentos ¬contraproducentes
Diante do exposto, a única consideração plausível a que podemos chegar é que os “irmãos” de Jesus eram realmente seus irmãos legítimos. É justamente esse o sentido do termo adelphós no Novo Testamento. Apesar de todo o esforço empregado pelos católicos para defender a virgindade perpétua de Maria, seus argumentos são totalmente contraproducentes.
O Salmo 69 é um texto profético com força suficiente para desmantelar o arcabouço erigido pelas artimanhas teológicas católicas. Qualquer exegeta que ler esse salmo terá de admitir que se trata de um salmo messiânico, ou seja, um salmo que fala sobre o ministério e a vida de Jesus, o Messias. No verso 8, o autor descreve perfeitamente a família de Jesus sem deixar dúvidas quanto à legitimidade carnal de parentesco entre eles. Vejamos: “Tornei-me como um estranho para os meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe”.
Quando, então, comparado com alguns textos do Novo Testamento, João 7.3-8 por exemplo, o Salmo 69 torna-se um argumento esmagador contra a teoria católica. “Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Pois nem seus irmãos criam nele. Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente. O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más. Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo”.
Compreendemos agora, por meio desse texto, o porquê de Jesus ter deixado sua mãe aos cuidados de João, e não de seus irmãos!

As primeiras perseguições



É no reinado de Nero, em 64, que aparecem medidas contra os cristãos. Menciona-as Suetônio: "Nero entregou aos suplícios os cristãos, raça entregue a uma superstição nova e culpada. A narração de Tácito é mais extensa: "Para fazer calar os rumores relativos ao incêndio de Roma, Nero designou como acusados a indivíduos detestados por causa de suas abominações, a quem o povo chamava de cristãos. O nome lhes veio de Chrestos que, sob Tibério, fora entregue ao suplicio pelo procurador Pôncio Pilatos. Reprimida por momentos, a execrável superstição transbordou novamente não apenas na Judéia, berço do flagelo, mas em Roma, para onde aflui tudo o que se conhece de mais atroz e infame. Prenderam primeiro os que confessavam a fé, em seguida, por indicação destes, prenderam uma multidão de outros, acusados não tanto de terem posto fogo na cidade mas de odiarem o gênero humano".
O texto esta a pedir algumas precisões. Defrontamo-nos em primeiro lugar com os termos Chrestos e chrestiani, que já figuram em Suetônio. Termos bem atestados, porque opõem o nome de cristão ao da acusação de abominação, que tem como base um jogo de palavras com christós e chréstos, bom. A alusão a Pôncio Pilatos é interessante, do ponto de vista das relações entre o Império romano e os cristãos. No entanto o que mais importa é o motivo da acusação. Ao lado da censura por atividade sediciosa, ligada ao messianismo, vemos aparecer o do odium humani generis. A palavra traduz o conceito de misantropia. A mesma acusação já fora levantada contra os judeus. Visa essencialmente o fato de uma comunidade se fazer suspeita por ter seus costumes próprios. Fácil é passar da idéia de costumes diferentes para a idéia de costumes desumanos, na hora em que se considera a civilização greco-romana como norma da filantropia, ou seja do humanismo. Dai as acusações, já levantadas contra os judeus e renovadas contra os cristãos, de adorarem um asno, de praticarem ritos de assassínios e incestos. Estamos aqui diante da primeira fase do julgamento dos pagãos sobre os cristãos. Estes começam a ser diferenciados dos judeus, mas as acusações suscitadas contra eles inspiram-se ainda nas que se levantavam contra os mesmos judeus.
Sob Galba, Otão e Vitélio que se sucedem em 68, não encontramos traço algum de perseguição. O mesmo se diga do período de Vespasiano (68-79) e Tito (79-81). A atenção do poder romano está concentrada na revolta judaica e os cristãos parecem esquecidos. Mas, sob Domiciano (81-96), uma perseguição é assinalada por Mélito (H. E. 2,6,9). Ver igualmente 3,17). Parece prender-se a fatos bastante desencontrados. Na Palestina, após a queda de Jerusalém, uma parte dos judeu-cristãos refugiados em Pela havia sem dúvida voltado a Jerusalém. Eusébio relata que se reuniam em torno dos parentes do Senhor (H. E. 3,2). Simeão, primo de Jesus, sucedera a Tiago. Ora, Hegesipo conta que Domiciano mandou comparecer diante de si os descendentes de Judas, um outro primo do Senhor, ambos porque lhe foram denunciados como descendentes de Davi (H. E. 3,20,1-6). Pouco antes Eusébio lembrava que Vespasiano procurara todos os descendentes de Davi após a tomada de Jerusalém (H. E. 3,12). Trata-se assim da repressão ao messianismo judeu. Os parentes de Cristo se encontram implicados pelo fato da descendência davídica de Jesus, proclamada no querigma.
Em Roma surge outro problema. Domiciano "golpeia impiedosamente toda resistência na aristocracia e entre os intelectuais. Em meio as pessoas atingidas podem bem ter figurado os cristãos. Seria o caso de Mânio Acílio Glábrio, cônsul em 91, executado com outros dois aristocratas como "ateu" e "inovador" (Domic., 10). Ora, uma das propriedades dos Acílios Glábrios serviu mais tarde de cemitério aos cristãos. Mais precisa é a tradição que vê em Flávio Clemente, primo de Tito e de Domiciano, e sobretudo em sua mulher Flávia Domitila, cristãos. Ele foi condenado à morte em 95 por ateísmo e "costumes judeus" (Domic. 15), e ela exilada para a ilha de Pôncia em 96 (H. E. 3,18,4). O cemitério de Domitila poderia ter sido uma das propriedades que teriam servido para a sepultura dos cristãos. Uma alusão de Clemente em sua Epistola 1,1 às desgraças que caíram sobre a igreja de Roma tem por mira, quem sabe, estas perseguições.
Esses fatos guardam no entanto certo caráter problemático. Existe porém outra região na qual uma perseguição de cristãos por Domiciano é atestada sem sombra de duvida, é a Ásia Menor. Possuímos ai um documento capital - que o confirme o Apocalipse. Informa-nos ele sobre um grupo de igrejas da Ásia, da Lídia e da Frígia. Ora, verifica-se como certo que nesta hora campeiam perseguições na região. O próprio João se viu exilado de Éfeso a Patmos (1,9). A igreja de Éfeso sofreu "pelo nome" de Cristo (2,3). Em Pérgamo, Antipas foi morto (2,13) e isso esta em relação com "o trono de Satanás", que designa provavelmente o templo de Roma ou seja o culto imperial. Tertuliano refere o martírio de Antipas no reinado de Domiciano (Escorpiácio 12,7). João anuncia alem disso à Igreja de Esmirna que diversos de seus membros hão de ser lançados a prisão (2,10). Não esqueçamos que o gênero mesmo do Apocalipse consiste em traduzir uma mensagem de esperança para os fiéis provados e supõe assim a perseguição.
Mas se o Apocalipse é importante, por assinalar o fato das perseguições aos cristãos na Ásia sob Domiciano, ele o é mais ainda como documento da mudança de atitude dos cristãos em relação ao Império. O contraste com as Epistolas de São Paulo é notório. Aos olhos deste o perigo consistia em deixar-se a Igreja arrastar pêlos Judeus para uma atitude anti-romana. Multiplica ele pois os apelos à submissão ao poder imperial. A situação agora mudou. O Império, desde Nero, é considerado como perseguidor dos cristãos. João descreve-o sob o símbolo da besta que sobe do mar. Os dez chifres e as sete cabeças representam a lista dos imperadores (13,1). As alusões ao culto imperial são explicitas (2,10; 3,10; 13,3-8). Roma é designada pelo nome de Babilônia, como símbolo do paganismo perseguidor (14,8). A mesma hostilidade em relação a Roma se encontra na Ásia nesta época, como o revela o V livro dos Oráculos Sibilinos.
O tema do Império perseguidor cristaliza-se principalmente em torno do personagem de Nero. É provável seja ele o designado pelo número 666 (13,18). Além disso a crença em sua sobrevivência e em seu retorno havia surgido logo após a morte, nos meios pagãos. Reaparece no Apocalipse (13,12-14; 17,8). Mas o Apocalipse não é o único livro cristão do tempo de Domiciano em que figure o tema. A Ascensão de Isaías é da mesma época. É provável que esteja relacionada com a comunidade cristã da Síria. Encontramos também nela o tema do retorno de Nero (4,2,4). Trata do culto ao imperador (4,11). A Igreja chamada "plantação feita pêlos Doze Apóstolos do Bem-Amado" (tipicamente judeu-cristão) é perseguida (4,3). Um dos Doze é morto, alusão certa ao martírio de Pedro sob Nero (4,3). Convém anotarmos afinal que o tema reaparece nos apocalipses judeus do tempo no IV livro de Esdras (5 6) no IV Livro dos Oráculos Sibilinos (119-120; 137-139), sendo o primeiro palestinense e o último obra asiata.
Podemos indagar que é que provocou este endurecimento tanto do poder imperial contra os cristãos como dos cristãos contra Roma. Quer parecer-nos que do lado romano se trate de um aspecto do conflito do Império com os judeus. Confundindo-os mais ou menos com os judeus é que os Flavianos perseguiram os cristãos. Por exemplo. os membros da aristocracia romana são perseguidos por causa de costumes judeus; os parentes de Jesus são presos na Palestina como descendentes de Davi. Explica-se assim por que as igrejas da Ásia tenham sido particularmente visadas. O cristianismo desta região se apresentava como animado por correntes messiânicas. É lá que campeia o milenarismo, quer dizer, a expectativa pelo estabelecimento do reino universal de Cristo tendo Jerusalém como centro. Pápias vincula tal doutrina aos presbíteros da Ásia, discípulos dos Apóstolos (H. E. 3,39,12). O próprio São João faz alusão a esta atitude no Apocalipse. Cerinto lhe confere uma forma heterodoxa (H. E. 3,28,1-6).
É natural que as autoridades romanas tenham confundido o milenarismo asiata com o zelotismo judeu. Tal confusão evidentemente não se justificava. Não se há de negar no entanto que o meio joanita tenha continuado profundamente imbuído do judaismo. Compreendemos assim que a perseguição romana contra os judeus o tenha atingido e o tenha considerado como solidário com eles. De fato o reinado de Domiciano apresenta para a Ásia e a Palestina um paralelismo impressionante com a literatura judaica e a cristã. O IV Esdras, o IV livro dos Oráculos Sibilinos por um lado o Apocalipse de João do outro são a expressão de uma mesma hostilidade com Roma.