terça-feira, 19 de agosto de 2025

Tire a sandália dos pês. Êxodo 3.1-6

 Conexão com sagrado

 

muitas religiões concordam que um lugar sagrado é um espaço que possui uma conexão especial com o divino, o transcendente ou o sagrado, e que serve como ponto de encontro para práticas religiosas e para a manifestação do sentimento místico. Esses lugares são considerados importantes para a identidade religiosa e para a vivência da fé. 

Detalhes:

Conexão com o transcendente:

Um lugar sagrado é visto como um local onde é possível sentir a presença do divino, seja por meio de rituais, orações, meditação ou simplesmente pela atmosfera do local. 

Importância para a identidade religiosa:

Lugares sagrados ajudam a fortalecer a identidade de um grupo religioso, pois estão associados a eventos históricos, figuras importantes ou práticas específicas de sua fé. 

Diversidade de lugares sagrados:

As religiões reconhecem diversos tipos de lugares sagrados, como templos, igrejas, mesquitas, sinagogas, santuários, montanhas, rios, florestas, e até mesmo cidades inteiras, como Jerusalém, que é sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos. 

Um exemplo é a historia de Moises e a sarça ardente em Êxodo 3.1-6, "Deus manda Moises tirar as sandálias pois o lugar era santo". 

Se analisarmos bem, veremos que antes, aquele lugar era como qualquer outro, porem Moises vê naquele lugar uma sarça queimando e não se consumia e uma voz que sai do meio da sarça, vemos que Deus pede para Moises tirar as sandálias pois ali já não era um lugar comum, mas santificado para um proposito, o qual seria a missão de libertar o povo do Egito. Entendo com isso que todo lugar que é santificado ou consagrado ao nosso Deus, esse lugar permite que tenhamos uma experiência sobrenatural.

Outro texto que nos fala é Josué 5.13-15, sucessor de Moises teve uma semelhante situação. A Bíblia sempre nos mostra o padrão de conexão com nosso Deus. O Senhor nos chama de embaixadores do reino, quando analiso essa palavra "embaixador" 

Na esfera diplomática, o embaixador é o ápice de uma carreira profissional e meritocrática. Ele serve como o representante de um Estado soberano, com a missão pragmática de defender os interesses nacionais — sejam eles políticos, econômicos ou culturais — em um país estrangeiro. Sua atuação é sustentada por princípios históricos como a inviolabilidade, essenciais para a manutenção do diálogo entre nações. O diplomata moderno evoluiu de um simples mensageiro para um mediador e negociador, atuando com poder e autonomia delegados.

No âmbito espiritual, o "embaixador do Reino de Deus" é um conceito teológico que descreve a vocação de cada cristão. Essa função não é uma profissão, mas uma identidade conferida por um chamado divino. O objetivo central é o "ministério da reconciliação", a missão de restaurar o relacionamento entre Deus e a humanidade, rompido pelo pecado. A autoridade do embaixador espiritual provém de Cristo, e sua legitimidade é frequentemente demonstrada não pela imunidade, mas pela vulnerabilidade e pelo sofrimento, como ilustrado pelo apóstolo Paulo.

A análise comparativa revela que, enquanto ambos os papéis compartilham o princípio de representar uma autoridade superior e manter fidelidade à sua missão, eles divergem dramaticamente em sua natureza, objetivos e condições para o exercício da função. O diplomata opera dentro das estruturas e regras do mundo, buscando a paz através da negociação de interesses. O embaixador espiritual, por outro lado, proclama uma mensagem de paz que transcende o mundo, exigindo uma transformação do ser para a reconciliação com o divino. Em essência, um busca a cooperação mútuo-interessada entre reinos terrenos, enquanto o outro proclama a salvação e a transformação para um Reino eterno.

Introdução: O Arquétipo do Representante

A figura do embaixador é um arquétipo de representação, uma ponte entre duas entidades, seja um Estado e uma nação anfitriã, ou uma divindade e o mundo. A palavra em si carrega o peso de responsabilidade, confiança e missão. A consulta para este relatório exige um aprofundamento nessa dualidade, explorando como o mesmo termo é aplicado em contextos tão distintos como a política internacional e a teologia. Este documento tem como objetivo desvendar as funções, os papéis e o significado de um embaixador em ambas as esferas, por meio de uma análise comparativa rigorosa e multifacetada. A metodologia empregada consistirá em uma exploração aprofundada de cada conceito em seu próprio domínio, seguida por uma análise comparativa que destacará os pontos de convergência e, mais notavelmente, as divergências conceituais que definem cada tipo de representação. Para contextualizar o papel diplomático, é fundamental traçar uma breve panorâmica histórica, reconhecendo que a prática da diplomacia e a função de um representante datam das primeiras sociedades organizadas, muito antes de sua formalização moderna.

O Embaixador na Diplomacia Internacional: Função, Papel e Significado

Definição e Funções-Chave: A Representação de um Estado Soberano

O embaixador é a figura de mais alto escalão na carreira diplomática de um país, atuando como o representante oficial de sua nação em um Estado estrangeiro. No Brasil, por exemplo, o cargo é extremamente exclusivo, com o embaixador sendo subordinado apenas ao Presidente da República, a quem cabe sua indicação e, posteriormente, a aprovação do Senado Federal. A embaixada que o embaixador chefia funciona como a sede da representação oficial de seu país no exterior.

As funções do embaixador são amplas e diversificadas, com o objetivo primordial de defender a soberania e os interesses de sua nação. Sua atuação abrange múltiplas dimensões:

  • Política: Mediar o diálogo entre a nação que representa e o país anfitrião, bem como organizar missões diplomáticas. Sua postura e ações devem ser um reflexo direto e fiel dos interesses estipulados pelo governo de seu país.

  • Econômica: Atuar como um facilitador e intermediador, fechando novos acordos comerciais e identificando oportunidades de negócio que possam ser exploradas pelo seu país.

  • Cultura e Educação: Fomentar parcerias acadêmicas, aumentar o número de programas de intercâmbio e buscar acordos que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento científico.

  • Consular e de Proteção Cidadã: Além de suas funções de alto nível, os diplomatas, em geral, são responsáveis por zelar pela proteção e os interesses dos cidadãos de sua nação no exterior, prestando assistência em diversas situações.

A complexidade e a importância desse papel residem na sua natureza evolutiva. Enquanto os mensageiros da antiguidade bíblica eram meros portadores de mensagens sem poder de negociação , o embaixador contemporâneo é um mediador ativo e pragmático. Sua eficácia não se limita a transmitir as posições de seu governo, mas reside em sua capacidade de moldar resultados, construir consensos e encontrar soluções em negociações bilaterais e multilaterais. Esta transformação do papel de "mensageiro" para "mediador" reflete a crescente interconexão global e a necessidade de agentes que não apenas representem, mas também

atuem em nome de sua nação, com um poder delegado significativo.

A Evolução Histórica da Diplomacia: Do Mensageiro ao Profissional

A prática da diplomacia é um dos elementos definidores de um Estado e tem sido exercida desde a formação das primeiras cidades-estado, há milênios. Registros históricos indicam sua presença na Mesopotâmia, onde foi concluído o tratado mais antigo conhecido, e na China, onde as práticas diplomáticas já alcançavam conteúdos complexos e detalhados na antiguidade, com a criação de carreiras públicas para homens talentosos na arte diplomática. Na Grécia Antiga e na Roma Antiga, a figura do arauto ou embaixador era vista com grande reverência, e a falta cometida contra eles era considerada uma violação do "direito dos povos". O tratamento de um embaixador era tão sagrado que ofendê-lo poderia levar a uma guerra, como ocorreu com o Rei Davi quando seus emissários foram insultados.

A diplomacia moderna, no entanto, começou a se consolidar durante o Renascimento na Itália, com o estabelecimento das primeiras missões diplomáticas permanentes no século XIII. Essa institucionalização continuou a se aprofundar ao longo do século XVII, especialmente na França, onde a diplomacia passou a ser vista como um ofício distinto e profissional. Este período viu a ascensão de especialistas e a diferenciação de funções, com a introdução dos primeiros "adidos militares" e "adidos navais" e a distinção clara entre "embaixador residente" e "embaixador extraordinário".

A inviolabilidade do embaixador, um princípio fundamental da diplomacia, é um conceito que permeia toda a história diplomática. O fato de que a ofensa a um embaixador era vista como uma violação do "direito dos povos" em Roma e que resultava em guerra na época de Davi demonstra que essa proteção não é apenas uma formalidade, mas uma pré-condição existencial para o trabalho diplomático. A inviolabilidade do embaixador é, na verdade, o que garante a continuidade do diálogo entre as nações, mesmo em tempos de tensão. Sem essa garantia de segurança para o representante, a comunicação se rompe, e o conflito se torna inevitável. Este princípio, portanto, não é uma mera consequência do papel do embaixador, mas uma das causas que sustentam toda a prática diplomática.

A Carreira e os Requisitos: O Caminho para a Cúpula Diplomática

O acesso ao cargo de embaixador é o ápice de uma carreira longa e exigente, pautada pela meritocracia e pela experiência. A nomeação não é automática, mas depende de anos de serviço, com um mínimo de 20 anos de efetivo exercício, sendo pelo menos 10 deles no exterior e 3 em cargo específico de chefia. O profissional deve acumular excelência em negociações internacionais e relações bilaterais para ser considerado. O processo formal culmina com a indicação pelo Presidente da República e a aprovação pelo Senado Federal.

As qualificações para um diplomata moderno vão além do conhecimento técnico em relações internacionais. O perfil ideal é resultado de um processo de "criação" profissional que cultiva uma série de habilidades essenciais. A formação contínua, a proficiência em múltiplas línguas, a capacidade de comunicação, a resiliência, a inteligência emocional e a flexibilidade são qualidades indispensáveis. Esta ênfase na competência técnica e na experiência acumulada reflete a natureza do papel como uma profissão rigorosamente estruturada. A nomeação é uma decisão política e institucional que valoriza o histórico e a habilidade, distinguindo-se fundamentalmente da concepção de uma vocação baseada em um chamado espiritual ou em uma transformação interna.

O 'Embaixador do Reino de Deus': Conceito, Vocação e Propósito

Fundamentação Bíblica e Teológica: A Representação de um Reino Celestial

A noção de "embaixador" adquire um significado teológico profundo nas Escrituras cristãs, especialmente na carta de Paulo aos Coríntios. Em 2 Coríntios 5:20, ele escreve: "De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo...". A palavra grega traduzida como "embaixador" é

presbeúo, que está relacionada a presbýteros, "ancião" ou "homem mais idoso". Essa conexão linguística sugere que, na visão bíblica, o papel de embaixador era tradicionalmente reservado a indivíduos de maturidade e experiência, aptos a representar uma autoridade com sabedoria.

O papel de embaixador espiritual é uma delegação de autoridade direta. Antes de sua ascensão aos céus, Jesus transferiu sua autoridade à Igreja, encarregando-a de fazer discípulos em todas as nações. Assim, os seguidores de Cristo agem como "representantes legais de Jesus Cristo aqui na Terra" e "substituindo a Cristo". A missão é, portanto, a de um representante que fala e age em nome de seu Rei.

Uma das descrições mais marcantes de um embaixador espiritual é a de Paulo como "embaixador em cadeias". Esta expressão é um contraponto direto à inviolabilidade e ao salvo-conduto que os embaixadores diplomáticos tradicionalmente desfrutam. Na teologia cristã, o aprisionamento de Paulo não invalida sua missão; ao contrário, ele a autentica. Sua vulnerabilidade e sofrimento servem como prova da atitude hostil do "mundo" para com o Reino de Deus. O desprezo pela imunidade do embaixador espiritual é, na verdade, um sinal da rebelião da nação anfitriã contra o Reino que ele representa. Esta vulnerabilidade se torna, de forma paradoxal, uma de suas credenciais mais poderosas, provando que ele não serve aos sistemas deste mundo.

O Ministério da Reconciliação: A Mensagem Fundamental

O cerne da missão do embaixador espiritual é o "ministério da reconciliação". Este conceito teológico descreve a restauração de um relacionamento harmonioso entre Deus e a humanidade, que foi rompido pelo pecado. A reconciliação, neste contexto, não é um acordo negociado entre partes iguais; é um ato unilateral de Deus, que tomou a iniciativa de buscar a humanidade por meio do sacrifício de Jesus. O embaixador é o portador desta "mensagem da reconciliação".

O interesse central do "Rei" (Jesus) é a salvação e a libertação do pecado, uma missão que seus embaixadores são chamados a compartilhar e proclamar através de suas palavras e atos. O chamado à reconciliação convida as pessoas a retornarem a um estado de amizade com Deus, restaurando a paz e a aceitação que o pecado destruiu. É uma missão que busca a transformação interior, não a cooperação pragmática.

Responsabilidades e Qualidades: A Vida como Missão

Ser um embaixador de Deus é mais do que uma honra; é um "compromisso de vida" que permeia todas as áreas da existência do indivíduo. O chamado não se restringe a uma função ou um tempo de serviço, mas se estende à vida familiar, às amizades e até mesmo à inteligência. As qualidades de caráter são, portanto, de suma importância para a missão.

O embaixador espiritual deve ser digno de confiança e viver de acordo com os ensinamentos de quem ele representa. A integridade, a bondade, a compaixão e a honestidade são virtudes essenciais. A humildade, exemplificada por Jesus ao lavar os pés de seus discípulos, é uma qualidade fundamental a ser imitada. Além disso, a manutenção de um relacionamento íntimo e constante com o "Rei" é uma responsabilidade contínua. Sem essa "comunhão regular", o embaixador espiritual corre o risco de perder a essência de sua missão e a força de sua mensagem.

Análise Comparativa: Paralelos e Divergências Conceituais

A análise conjunta dos dois conceitos de embaixador revela um conjunto fascinante de paralelos e, de forma ainda mais significativa, de profundas divergências. Embora ambos os papéis utilizem o mesmo título, eles representam paradigmas de representação que operam em lógicas distintas.

Pontos de Convergência

  1. Representação: Ambos os embaixadores agem como representantes oficiais de uma autoridade superior. O diplomata representa um Estado soberano em um país estrangeiro , enquanto o embaixador espiritual representa o Reino de Deus em um mundo alienado.

  2. Fidelidade à Missão: A fidelidade aos interesses e à postura da autoridade que os envia é um requisito inegociável para ambos. O diplomata deve refletir a política de seu governo , e o embaixador espiritual deve representar o caráter e a mensagem de Cristo.

  3. Mediação e Comunicação: Ambos são mediadores e comunicadores essenciais, responsáveis por entregar mensagens e buscar o estabelecimento ou a restauração de relações. O diplomata facilita o diálogo entre nações , e o embaixador espiritual proclama a mensagem de reconciliação.

Pontos de Divergência

As diferenças conceituais são as que verdadeiramente distinguem os dois papéis, refletindo a natureza distinta das esferas em que operam.

  • Natureza da Autoridade: A autoridade do embaixador diplomático é terrena, finita e delegada por um Estado-nação. Por outro lado, a autoridade do embaixador espiritual é divina e eterna, proveniente do Reino de Deus.

  • Objetivo da Missão: A missão diplomática é orientada por interesses nacionais (políticos, econômicos, culturais) e busca alcançar a cooperação mútua entre nações. A missão espiritual, em contrapartida, é motivada pela salvação e pela reconciliação, buscando a transformação e a restauração de um relacionamento.

  • Acesso ao Cargo: O acesso ao cargo de embaixador diplomático é resultado de um processo rigoroso, hierárquico, meritocrática e político, exigindo anos de experiência e aprovação institucional. O embaixador espiritual, por sua vez, assume sua função através de um chamado espiritual e uma transformação interior, que ocorrem pela fé e aceitação dos ensinamentos de Cristo.

  • Status e Imunidade: O embaixador diplomático goza de status especial e inviolabilidade legal (salvo-conduto), que são essenciais para sua segurança e para a continuidade do diálogo. O embaixador espiritual, por sua vez, não possui imunidade legal e pode, como Paulo, atuar "em cadeias," o que paradoxalmente serve como um sinal de sua autenticidade e fidelidade a um Reino que não é deste mundo.

Conclusão: A Síntese de um Conceito Unificador

O estudo do termo "embaixador" em seus domínios diplomático e espiritual demonstra que, embora as funções, os objetivos e as condições de acesso sejam radicalmente diferentes, ambos os conceitos estão intrinsecamente ligados pelo princípio da representação. O embaixador, em qualquer uma de suas acepções, é a personificação de uma autoridade, a ponte entre dois mundos e o portador de uma mensagem que busca, em última análise, a harmonia.

No palco internacional, o embaixador diplomático trabalha incansavelmente para construir pontes de diálogo e acordo entre nações, navegando pelas complexidades dos interesses nacionais com a esperança de evitar conflitos e fomentar a paz. Sua missão é pragmática e voltada para a ordem mundial. Na esfera da fé, o embaixador espiritual transcende a política e a cultura, propondo uma paz que não depende de tratados, mas da transformação do coração humano. Sua missão é transcendental e voltada para a salvação.

Em sua essência, o embaixador é mais do que um indivíduo; é um arquétipo de lealdade, mediação e propósito. O termo "embaixador" transcende sua definição literal e se estabelece como uma poderosa metáfora para qualquer indivíduo ou grupo que, por convicção, missão ou vocação, se dedica a representar e comunicar os valores e a vontade de uma autoridade superior. Ambos os papéis são essenciais em suas respectivas esferas, e a compreensão de suas semelhanças e diferenças aprofunda nosso entendimento sobre os conceitos de representação, fidelidade e a perene busca pela paz.





terça-feira, 22 de abril de 2025

O vinho segundo a Bíblia.


 

JESUS E O VINHO





AS BODAS DE CANÁ


Muitos cristãos bem intencionados crêem que o “bom vinho” que Jesus produziu em Caná (João 2:10) foi “bom” por causa de seu elevado teor alcoólico. Esta crença sustenta-se sobre três principais pressupostos. Primeiro, presume-se que os judeus não sabiam como evitar a fermentação do suco de uva; e sendo que a estação do casamento foi pouco antes da Primavera (cf. João 2:13), ou seja, seis meses após a colheita da uva, o vinho utilizado em Caná tinha amplo tempo para fermentar.

Em segundo lugar, presume-se que a descrição dada pelo mestre do banquete quanto ao vinho propiciado por Cristo como “o bom vinho” significa um vinho alcoólica de alta qualidade. Em terceiro lugar, presume-se que a expressão “beberam fartamente “ (João 2:10), empregada pelo mestre do banquete, indica que os convidados estavam intoxicados por terem estado bebendo vinho fermentado. Conseqüentemente, o vinho que Jesus fez deve também ter sido fermentado.

Em face da importância que essas pressuposições desempenham em determinar a natureza do vinho propiciado por Cristo, examinaremos brevemente cada uma delas.

O primeiro pressuposto é desmentido por numerosos testemunhos do mundo romano dos tempos do Novo Testamento que descrevem vários métodos de preservar o suco de uva. Vimos no boletim ENDTIME ISSUES No. 81 que a preservação de suco de uva não-fermentado era em certos aspectos um processo mais simples do que a preservação de vinho fermentado. Destarte, a possibilidade existia de suprir suco de uva não-fermentado na boda de Caná, próximo à estação a Páscoa, uma vez que tal bebida podia ser mantida sem fermentação por todo o ano.

“O Bom Vinho”. O segundo pressuposto é de que o vinho que Jesus propiciou foi chamado de “o bom vinho” (João 2:10) pelo mestre do banquete por causa de seu nível elevado de teor alcoólico toma por base o gosto dos bebedores do século vinte que definem um bom vinho em grande medida por seu vigor alcoólico. Isto, porém, não é necessariamente verdadeiro no mundo romano dos tempos neotestamentários, quando os melhores vinhos eram aqueles cuja potência alcoólica havia sido removida por fervura ou filtração.

Plínio, por exemplo, declaa que os “vinhos são de maior benefício (utilissimum) quando todo o seu vigor havia sido removido pelo filtrador”.1 De modo semelhante, Plutarco assinala que o vinho é “muito mais agradável de se beber” quando “nem inflama o cérebro nem infesta a mente ou as paixões” 2 porque sua força foi removida mediante freqüente filtragem.

O Talmude indica que beber sob o acompanhamento de instrumentos musicais em ocasiões festivas, como numa festa matrimonial era proibido.3 Esta última afirmação é confirmada por testemunhos posteriores de rabinos. Por exemplo, o Rabino S. M. Isaac, um destacado rabino do século XIX e editor do The Jewish Messenger, diz: “Os judeus, em suas festas para propósitos sagrados, inclusive a festa matrimonial, jamas empregam qualquer tipo de bebida fermentada. Em suas oblações e libações, tanto em privado como em público, empregado o fruto da vide--ou seja, uvas frescas--suco de uva não-fermentado, e passas, como símbolo de bênção. A fermentação é para eles sempre um símbolo de corrupção”.4 Conquanto a declaraçao do Rabino Isaac não seja bem exata, uma vez que fontes judaicas não são unânimes quanto ao tipo de vinho a ser empregado durante festivais sagrados, ainda indica que alguns judeus empregavam vinho sem fermento por ocasião de festas matrimoniais.

“Beberam Fartamente”. O terceiro pressuposto de que a expressão “beberam fartamente” (João 2:10) indique que os convivas da festa matrimonial estavam intoxicados e assim o “bom vinho” propiciado por Cristo deve também ter sido intoxicante, interpreta e aplica mal o comentário do mestre do banquete, e passa por alto o uso mais amplo do verbo. O comentário em questão não foi feito com referência a essa festa matrimonial em particular, mas à prática geral entre os que promoviam festas: “Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior . . “. (João 2:10). Esse comentário faz parte das atividades regulares de um mestre de banquete contratado, antes que ser uma descrição real do estado de intoxicação numa festa em particular.

Outra consideração importante é o fato de que o verbo grego methusko, traduzido por alguns como “bem bêbado”, pode também significar “beber livremente”, como vertido na Revised Stardard Version (em inglês), sem qualquer implicação de intoxicação. Em seu artigo sobre este verbo no Theological Dictionary of the New Testament, Herbert Preisker faz notar que “Methuskomai é utilizado sem qualquer julgamento ético ou religioso em João 2:10, em ligação com a regra de que o vinho mais pobre é servido somente quando os convidados tinham bebido bem”.5

Implicações Morais. O verbo methusko em João 2:10 é usado no sentido de saciar. Refere-se simplesmente à grande quantidade de vinho geralmente consumido numa festa, sem qualquer referência a efeitos intoxicantes. Os que insistem de que o vinho utiizado na festa era alcoólico e que Jesus também forneceu vinho alcoólico, conquanto de melhor qualidade, são induzidos à conclusão de que Jesus providenciou-lhes uma grande quantidade adicional de vinho intoxicante de modo a que os convivas da festa matrimonial pudessem dedicar-se a sua plena indulgência. Tal conclusão destrói a integridade moral do caráter de Cristo.

A coerência moral requer que Cristo não tivesse produzido miraculosamente entre 120 a 180 galões de vinho intoxicante para uso dos homens, mulheres e crianças reunidos nas bodas de Caná, sem tornar-Se moralmente responsável pela intoxicação deles. A coerência escriturística e moral requer que o “bom vinho” produzido por Cristo fosse suco de uva recente e não-fermentado. Isto é respaldado pelo próprio adjetivo empregado para descrevê-lo, ou seja, kalos, que denota o que é moralmente excelente, em vez de agathos, que significa simplesmente bom.6

NOVO VINHO EM ODRES NOVOS


A declaração de Cristo de que “vinho novo deve ser posto em odres novos” (Lucas 5:38; Mateus 9:17; Marcos 2:22), é visto pelos moderacionistas como uma indicação de que Jesus recomendou o uso moderado do vinho alcoólico. Este ponto de vista apóia-se no pressuposto de que a frase “vinho novo” significa o vinho recém-esmagado, mas já num estado de fermentação ativa. Tal vinho, alega-se, so podia ser colocado em novos odres porque os odres velhos arrebentariam sob pressão.

Fermentado Vinho Novo? Esta interpretação popular é muito imaginativa mas de pouco fundamento. Qualquer um familiarizado com a pressão causada pela fermentação causadora de gás sabe que nenhuma recipiente, seja de vidro ou couro, pode resistir à pressão do novo vinho fermentado. Como Alexander B. Bruce assinala, “Jesus não estava pensando absolutamente em vinho fermentado, intoxicante, mas de 'mosto', uma bebida não intoxicante, que podia ser mantida com segurança em recipientes novos de couro, mas não em velhos odres que haviam guardado vinho ordinário antes, porque partículas de matéria albuminóide aderida ao couro produziria a fermentação e desenvolveria o gás com uma enorme pressão”.7

O único “vinho novo” que podia ser guardado em segurança em novos odres era o mosto não fermentado após ter sido filtrado ou fervido. Columella, o renomado agriculturista romano que foi contemporâneo dos apóstolos, ateste que uma “jarra de vinho novo” era empregada para preservar mosto fresco, não-fermentado. “Para que o mosto permaneça sempre doce como se fosse recente, fazei do modo seguinte: antes que as cascas de uva sejam colocadas sob a prensa, tomai da vasilha uma parte do mosto mais novo possível e colocai-o numa jarra nova [amphoram novam], daí espalhe-o e o cubra cuidadosamente com piche, de modo que nenhuma água seja capaz de introduzir-se”.8

Significado simbólico. Esta interpretação é confirmada mais adiante pelo significado simbólico do que Cristo disse. A imagem do vinho novo em odres novos é uma lição ilustrativa da regeneração. Como Ernest Gordon habilmente explicou, “os odres velhos, com seu sedimento alcoólico, representavam a natureza corrupta dos fariseus. Não podia ser posto o vinho novo do Evangelho neles. Eles poderiam fermentá-lo. “Não vim chamar justos, e sim pecadores”. Mais tarde através de sua conversão transformou os novos recipientes, capazes de reterem o vinho novo sem deteriorá-lo (Mar. 2:15-17, 22). Então, pela comparação do vinho intoxicante com o farisaísmo degenerado, Cristo confidenciou, claramente, qual era a sua opinião de vinho intoxicante”.9

“É bom notar”, continua Ernest Gordon, “como nesta ilustração casual, ele [Cristo] identifica vinho em conjunto com o vinho não fermentado. Vinho fermentado é determinado como não reconhecido. Poderia ser colocado em qualquer tipo de odre, conquanto miserável e corrupto. Mas vinho novo é como pano novo que é muito bom para ser usado no conserto de trapos. É algo limpo e saudável, exigindo um recipiente limpo. O modo natural no qual esta ilustração é usada, sugere, pelo menos, um entendimento geral e realista entre seus ouvintes judeus de que o verdadeiro fruto da videira, o vinho bom, seria não fermentado”.10

O VINHO VELHO É MELHOR?


Em Lucas, a afirmação de Cristo sobre vinho novo em odres novos é seguida por uma declaração semelhante, todavia diferente: “E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom” (Lucas 5:39). Embora este texto não seja encontrado nos outros evangelhos, faz parte integrante da narrativa. Os moderacionistas atribuem fundamental importância a essa declaração porque contém, na visão deles, uma clara recomendação de Cristo ao vinho alcoólico. Kenneth L. Gentry, por exemplo, fala da “quase universal prevalência da preferência do vinho velho (fermentado) sobre o novo (pré ou não-fermentado) entre os homens. O Senhor mesmo fez referência a essa valorização entre os homens, em Lucas 5:39: ‘E ninguém, tendo bebido o velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom’”.11

O Significado de “Vinho Novo”. A frase “vinho novo-oinos neos” é usado na Septuaginta (a tradução para o grego do Velho Testamento), para traduzir tanto vinho fermentado em Jó 32:19, como o suco de uva não fermentado em Isaías 49:26. Em traduções posteriores o hebraico asis é o que designa suco de uva não fermentado.

Na passagem em consideração é legítimo deduzir que “vinho novo” tem o mesmo significado que em todas as passagens, porque ele é usado, consecutivamente, sem nenhuma insinuação à mudança de significado. As metáforas de ambos, dizem, são usadas sem confusão ou contradição. Este termo “vinho novo” do verso 38 é, como mostrado claramente, o mesmo que deve ser verdade do “vinho novo” do verso 39.

Significado de “Vinho Velho”. Antes de discutir se Cristo expressou ou não um julgamento da qualidade superior do “vinho velho” sobre o “vinho novo”, é importante determinar se o “vinho velho”, referia-se ao fermentado ou ao não-fermentado. Do ponto de vista da qualidade, a idade “melhora” o sabor não só do fermentado, mas também do suco de uva não-fermentado. Conquanto nenhuma mudança química ocorra, o suco de uva adquire um sabor mais refinado sendo conservado, pois partículas finas e delicadas separam-se da matéria albuminosa e outras sedimentações. Assim, o “vinho velho” considerado bom, poderia referir-se ao suco de uva preservado e melhorado pela idade.

O contexto, porém, favorece o significado de vinho fermentado, uma vez que Cristo utilizou a metáfora do “vinho velho” para representar as velhas formas de religião, e o “vinho novo” para as novas formas de vida religiosa que Ele ensinava e inaugurava. Neste contexto, o vinho velho fermentado representa melhor as formas corruptas da velha religião farisaica.

O “Vinho Velho” é Melhor? À luz desta conclusão resta determinar se Cristo, através dessa declaração, está expressando um juízo de valor da superioridade do “vinho velho” (fermentado) sobre o “vinho novo” (não fermentado). Uma leitura cuidadosa destes textos indica que quem diz “o velho é bom” não é Cristo, mas alguém que tenha bebido o “vinho velho”. Em outras palavras, Cristo não está expressando Sua própria opinião, mas a opinião daqueles que adquiriram um gosto por vinhos velhos. Ele disse, simplesmente, que alguém que tivesse adquirido gosto por vinhos velhos não gostaria do novo. Sabemos ser este o caso. Beber bebida alcoólica gera um apetite por bebidas estimulantes e não por sucos sem álcool.

A declaração de Cristo não representa Sua aprovação da superioridade do vinho velho fermentado. Vários comentaristas enfatizam este ponto. No seu comentário sobre o evangelho de Lucas, Norval Geldenhuys diz: “O ponto aqui não tem nada a ver com a comparação do vinho velho com o novo, mas refere-se à predileção pelo vinho velho no caso daqueles que estão acostumados a bebê-lo”.12

R. C. H. Lenski declara a mesma verdade muito sucintamente: “Não foi Jesus que chamou o vinho velho de ‘bom o bastante’, mas aquele que o bebeu. Uma porção de vinho velho é, decididamente mau, porque não foi preparado convenientemente; a idade é uma coisa, excelência pela idade é bem outra”.13

O Contexto do “Vinho Velho”. A opinião de que o vinho velho fermentado é melhor que o vinho novo, seria falsa mesmo que todos na terra cressem nisso! E na passagem que estamos isso é contraditado pelo contexto em que ocorre e pelo propósito integral da ilustração. No contexto imediato Jesus emprega a mesma palavra (palaios) quanto a roupas velhas, que Ele, obviamente, não consideraria melhores do que as novas. A declaração sobre “vinho velho” parece contradizer a anterior sobre “roupas velhas”, mas a contradição desaparece quando se compreende o propósito da ilustração.

O propósito da ilustração não é elogiar a superioridade do vinho velho, mas advertir contra um exagero das velhas formas de religiosidade promovida pelos fariseus. A religiosidade consistia, como indicado no verso 33, no cumprimento de práticas ascéticas externas tais como os freqüentes jejuns e as orações públicas. Para justificar o fato de que Seus discípulos não aderiam às formas externas de religiosidade, Cristo usou quatro ilustrações: os convidados do casamento que não jejuam na presença do noivo (vv 34-35); roupas novas não eram usadas como retalho em roupas velhas (v. 36); o vinho novo não era colocado em odres velhos (vv. 37-38); vinho novo não era apreciado por aqueles acostumados a beber vinho velho (v. 39).

O propósito comum de todas as quatro ilustrações é ajudar as pessoas acostumadas com as velhas formas de religião, e alheias à nova forma de vida religiosa ensinada por Cristo, a perceberem que o velho parece bom apenas para aqueles que não estão acostumados com o novo, que é propriamente o melhor. Neste contexto, o vinho velho fermentado parece bom apenas para quem que não sabe que o vinho novo é o melhor.

FOI JESUS UM GLUTÃO E BÊBADO?


Mais de dezenove séculos atrás, Jesus foi acusado de ter sido um “glutão e um bêbado”, porque Ele veio “comendo e bebendo” (Luc. 7:33; Mat. 11:19). Moderacionistas encontraram na descrição de Jesus de Seu próprio estilo de vida de “comer e beber” (Mat. 11:19; Luc. 7:34) uma prova indiscutível de que Ele admitia, abertamente, usar vinho alcoólico. Além disso, discute-se que Jesus deve ter bebido vinho alcoólico para Seus críticos acusá-lo de Ser um “bêbado”.

Estilo de Vida Social. Esta interpretação ignora várias considerações importantes. A frase “comendo e bebendo” é usada como idiomatismo para descrever a diferença entre o estilo de vida social de Jesus e o de João Batista. João veio “não comendo pão, nem bebendo vinho” (Luc. 7:33), para dizer, que ele viveu um estilo de vida de completo isolamento, e que Cristo veio “comendo e bebendo”, para dizer, que Ele viveu um estilo de vida social de livre associação.

Nenhuma Menção de “Vinho”. Um ponto significativo passado por alto freqüentemente é que Jesus não mencionou “vinho” na descrição de Seu próprio estilo de vida. Enquanto que de João Batista, Jesus disse que ele veio “não comendo pão, nem bebendo vinho”, de Si mesmo Ele disse simplesmente: “Veio o Filho do Homem, que come e bebe”. Se Jesus procurasse ser conhecido, ao contrário de João Batista, então poderia ter repetido a palavra “vinho” por causa da ênfase e clareza.

Por recusar especificar quais os tipos de alimentos ou bebidas que consumia, Cristo poderia ter desejado privar Seus críticos de qualquer base para sua acusação de glutonaria e embriaguez. A omissão de “pão” e “vinho” na segunda declaração (Mateus os omite em ambas as declarações) bem poderia ter sido planejado para expor a falta de sentido da acusação. Em outras palavras, Jesus parece dizer: “Meus críticos me acusam de ser um glutão e bêbado, só porque Eu não tomo alimentos sozinho mas como freqüentemente na presença de outras pessoas. Eu como socialmente. Mas meus críticos, de fato, não sabem o que Eu como”.

Mesmo supondo que Seus críticos realmente vissem Jesus bebendo alguma coisa, eles poderiam tê-Lo acusado de ser um bêbado, mesmo que o vissem bebendo suco de uva, ou até água. No dia de Pentecostes os críticos acusaram os apóstolos de estarem bêbados com suco de uva (gleukos--Atos 2:13). Isto mostra que não importava o que Jesus tivesse bebido, Seus críticos inescrupulosos O caluniariam como um bêbado.

Acusação Crítica Perigosa. Deduzir que Jesus devia ter bebido vinho porque Seus críticos O acusaram de ser um “bêbado”, significaria aceitar como verdade as palavras dos inimigos de Cristo. Em outras duas ocasiões seus críticos acusaram Jesus: “Tens demônio” (João 7:20; 8:48). Se acreditarmos que Cristo bebeu vinho alcoólico porque Seus críticos O acusaram de ser um bêbado, então teríamos também que acreditar que Ele tivesse demônio. O absurdo de tal raciocínio mostra que aceitar as acusações desses críticos não é uma base segura para definir o ensinamento bíblico.

Jesus respondeu a este ataque sem base de Seus críticos: “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos” (Luc 7:35). A evidência textual divide-se entre “filhos” e “obras”, mas o significado dessa obscura declaração permanece a mesma, a saber, que a sabedoria é para ser julgada pelos seus resultados. A sabedoria de Deus é vindicada pelas boas obras que elas geram. Assim, deduzir na base das alegações de Seus críticos de que Jesus bebeu vinho mostra completa falta de sabedoria. Os resultados de Sua vida de abnegação falam por si mesmos.

O VINHO COMUM


A importância fundamental é atribuída ao “vinho” da Última Ceia porque Cristo não apenas o usou, mas do mesmo modo ordenou que fosse usado até o fim dos tempos como memorial de Seu sangue redentor (Mat. 26:28-29; Mar. 14:24-25). Acredita-se amplamente que o vinho da Última Ceia era alcoólico por duas principais razões: (1) a frase “fruto da videira” é uma expressão figurativa que era usada como equivalente funcional de vinho fermentado, e (2) os judeus supostamente usariam apenas vinho fermentado na Páscoa. Esta crença é desacreditada por várias importantes considerações.

“O Fruto da Videira”. A linguagem da Última Ceia é significativo. Em todos os evangelhos sinóticos Jesus chama o conteúdo da taça de “o fruto da videira” (Mat. 26:29; Mar. 14:25 e Luc. 22:18). O substantivo “fruto” (gennema) denota que é o produto em estado natural, da mesma maneira em que foi apanhado. Vinho fermentado não é o “fruto da videira” natural, mas o fruto da fermentação não natural e decadente. O historiador judeu Flávio Josefo, que foi contemporâneo dos apóstolos, chama explicitamente, os três cachos de uvas frescas prensados numa taça pelo mordomo do Faraó como “o fruto da videira”.14 Isto estabelece que a frase era usada, inequivocamente, para designar a doçura do suco de uva não fermentado.

Se o conteúdo do cálice era de vinho alcoólico, Cristo dificilmente poderia ter dito: “Bebei dele todos” (Mat. 26:27; cf Mar. 14:23; Luc. 22:17), especialmente em vista do fato de que na Páscoa um típico cálice de vinho não continha apenas um gole de vinho, mas aproximadamente meio litro.15 Cristo dificilmente poderia ter ordenado a “todos” os Seus seguidores para beberem o cálice, se este contivesse vinho alcoólico. Há alguns para os quais o álcool, em qualquer forma, é muito prejudicial.

Crianças novas que participarem à mesa do Senhor, certamente não deveriam tocar vinho. Há aqueles aos quais o simples gosto ou o cheiro do álcool desperta um latente desejo por álcool. Poderia Cristo que nos ensinou a orar “livra-nos da tentação”, ter feito de Seu memorial à mesa um lugar de irresistível tentação para alguém e de perigo para todos? O vinho da Ceia do Senhor nunca pode ser tomado livre e festivamente na medida em que seja alcoólico alcoólico e intoxicante.

A Lei da Fermentação. Apoio adicional para a natureza do vinho não-fermentado da Comunhão é provido pela lei mosaica que requeria a exclusão de todos os artigos fermentados durante a festa da Páscoa (Êx. 12:15; 13:6,7). Jesus compreendia o significado da letra e do espírito da lei mosaica relativos às “coisas não fermentadas”, como indicado por Sua advertência contra “o fermento dos fariseus e dos saduceus”. (Mat. 16:6). “Fermento” para Cristo representava a natureza e ensinamentos corruptos, como os discípulos depois entenderam (Mat. 16:12). A consistência e beleza do simbolismo do sangue não pode ser adequadamente representado pelo vinho fermentado, o qual é posto na Bíblia como depravação humana e indignação divina.

Não podemos conceber a Cristo curvando-se para abençoar com oração de graças um cálice que contivesse vinho alcoólico, sobre que a Bíblia nos adverte para não olharmos (Prov. 23:31). Um cálice que intoxica é um cálice de maldição e não “o cálice da bênção” (I Cor. 10:16); é “o cálice dos demônios” e não o “cálice do Senhor” (I Cor 10:21); é um cálice que não pode simbolizar adequadamente a incorruptibilidade e o “precioso sangue de Cristo” (I Ped. 1:18-19). Isto dá razão para acreditarmos que o cálice que Ele “abençoou” e deu a Seus discípulos não continha qualquer “coisa fermentada” proibida pela Escritura.

Testemunhos Históricos. Testemunhos históricos de judeus e cristãos apóiam o uso do vinho não- fermentado na Páscoa/Ceia do Senhor. Louis Ginzberg (1873-1941), respeitado estudioso do Talmude que por quase 40 anos foi presidente do Departamento de Estudos Rabínicos e Talmúdicos do Seminário Teológico Judaico da América, proveu o que talvez seja a mais exaustiva análise das referências do Talmude relativas ao uso do vinho nas cerimônias religiosas judaicas. Ele conclui sua investigação dizendo: “Temos provado, assim, com base em passagens principais tanto do Talmude da Babilônia como de Jerusalém, que o vinho não-fermentado pode ter sido usado lekatehillah (opcionalmente) por Kiddush [a consagração de um festival por meio de um cálice de vinho] e outras cerimônias religiosas do lao de fora do templo”.16

A conclusão de Ginzberg é confirmada pela The Jewish Encyclopedia. Comentando sobre o tempo da Última Ceia, ele disse: “De acordo com os evangelhos sinópticos, pareceria que na quinta-feira à tarde da última semana de sua vida, Jesus com seus discípulos entrou em Jerusalém para comer a refeição da Páscoa com eles na cidade sagrada; se for assim, o pão e o vinho da missa ou serviço de comunhão instituído então por ele como um memorial, seria o pão sem fermento e o vinho não-fermentado do serviço de Seder”.17

O costume do uso do vinho não-fermentado na Páscoa sobreviveu através dos séculos não apenas entre alguns judeus, mas também entre certos grupos de cristãos e igrejas. Por exemplo, os apócrifos de Atos e Martítio do Apóstolo São Mateus, circulou no terceiro século, como uma voz celestial instruindo ao bispo local, Plato, dizendo: “Leia o evangelho e traga um pão sagrado como oferta; e após prensar os três cachos da vinha dentro da taça, comunique-se comigo, como o Senhor Jesus mostrou-nos como ofertar quando Ele subiu da sepultura no terceiro dia”.18 Este é um testemunho claro do uso do suco de uva recém prensado na celebração da Última Ceia.

A prática de prensar uvas preservadas diretamente dentro da taça de comunhão foi confirmada por concílios, papas e teólogos, inclusive Tomás de Aquino ( 1225-1274 AD).19 O uso de vinho não-fermentado é bem documentado, especialmente, entre as Igrejas Orientais como a Igreja da Abissínia, a Igreja Nestoriana da Ásia Ocidental, os cristãos de São Tomás na Índia, os monastérios Cópticos no Egito e os cristãos de São João na Pérsia, os quais celebravam a Ceia do Senhor com vinho não fermentado ou feito com uvas frescas ou secas.20

CONCLUSÃO


À luz das considerações anteriores, concluímos que “o fruto da vide” que Jesus ordenou ser usado como memorial de Seu sangue redentor não era fermentado, já que na Escritura fermento representa a corrupção humana e a indignação divina, mas o não-fermentado e puro suco de uva, como emblema adequado do sangue de Cristo não contaminado, derramado para a remissão de nossos pecados.

A afirmação de que Cristo usou e sancionou o uso de bebidas alcoólicas repousa em suposições não fundamentadas, fora do texto, contexto e sem apoio histórico. A evidência que foi submetida, indica que Jesus absteve-se de toda substância intoxicante e não deu autorização aos Seus seguidores para que eles próprios não as usassem. Podemos seguir o exemplo de Jesus pela abstinência de qualquer substância que intoxique nosso corpo e prejudique nossa mente.

NOTAS


1. Plínio, Natural History 23, 24, trans. W. H. S. Jones, The Loeb Classical Library (Cambridge, Massachusetts, 1961).
2. Plutarco, Symposiac 8, 7.
3. Ver Sotah 48a; também Mishna Sotah 9, 11.
4. Citado em William Patton, Bible Wines. Laws of Fermentation (Oklahoma City, s.d.), pág. 83. Ênfase acrescentada.
5. Herbert Preisker, “Methe, Methuo, Methuskomai”, Theological Dictionary of the New Testament, ed. Gerhard Kittel (Grand Rapids, 1967), vol. 4, pág. 547, ênfase acrescentada.
6. “Deve-se observar”, assinala Leon C. Field, “que o adjetivo usado para descrever o vinho produzido por Cristo não é agathos, bom, simplesmente, mas kalos, que é moralmente excelente ou adequado. O termo é sugestivo da caracterização de Theofrasto de vinho não intoxicante como moral (ethikos)” (Oinos: A Discussion of the Bible Wine Question [New York, 1883], pág. 57).
7. Alexander Balman Bruce, The Synoptic Gospels in The Expositor's Greek Testament (Grand Rapids, 1956), pág. 500.
8. Columella, On Agriculture 12, 29.
9. Ernest Gordon, Christ, the Apostles and Wine. An Exegetical Study (Philadelphia, 1947), pág. 20.
10. Ibid., pág. 21.
11. Kenneth L. Gentry, The Christian and Alcoholic Beverages (Grand Rapids, 1986), pág. 54.
12. Norval Geldenhuys, “Commentary on the Gospel of Luke”, The New International Commentary on the New Testament (Grand Rapids, 1983), pág. 198.
13. R. H. Lenski, The Interpretation of St. Luke's Gospel (Columbus, Ohio, 1953), pág. 320.
14. Josephus, Antiquities of the Jews 2, 5, 2.
15. Segundo J. B. Lightfoot, cada um das quatro taças da Páscoa continha “não menos do que a quarta parte de um hin, além de água para misturar com ele” (The Temple-Service and the Prospect of the Temple [Londres, 1833], pág. 151). Um hin continha doze pints inglesas, de modo que quatro taças resultariam em três quartos de um pint cada.
16. Louis Ginzberg, “A Response to the Question Whether Unfermented Wine May Be Used in Jewish Ceremonies”, American Jewish Year Book 1923, pág. 414.
17. The Jewish Encyclopedia, edição de 1904, s. v. “Jesus”, vol. 5, pág. 165.
18. “Acts and Martyrdom of St. Matthew the Apostle”, eds. Alexander Roberts and James Donaldson, The Ante-Nicene Fathers (Grand Rapids, 1978), vol. 8, págs. 532-533.
19. Para referências e discussão, ver Wine in the Bible, págs. 168-169.
20. Informação sobre essas igrejas é fornecida por G. W. Samson, The Divine Law as to Wines (Nova York, 1880), págs. 205-217. Ver também Leon C. Field, OinosA Discussion of the Bible Wine Question (Nova York, 1883), págs. 91-94; Frederic R. Lees and Dawson Burns, The Temperance Bible-Commentary (Londres, 1894), págs. 280-282.


Samuele Bacchiocchi, Ph. D. (*)
Professor Jubilado de Teologia e História Eclesiástica
Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan, EUA

Traduzido por Prof. Azenilto G. Brito (*)
Ministério Sola Scriptura
[Não confundir com solascriptura-tt]




(*) Nota de Hélio de M. Silva: Esta pessoa é ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, seita combatida por nós neste site. O fato de citarmos as palavras de alguém não necessariamente significa que temos a mínima identificação com seu autor em áreas outras que o principal assunto da citação. Neste caso, discordamos radicalmente e estamos em campos de batalha opostos, quanto a áreas extremamente importantes. Somente estamos usando as palavras dessa pessoa por ela bem atacar um grave erro. Leia nossa posição em http://solascriptura-tt.org/ConfissaoDoutrinariaHelio.htm.
 



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